Cuantificación de Ánforas: protocolos y comparativas. Principais resultados de outro seminário de êxito do Projecto Amphorae ex Hispania

Publicado en: Almeida, R.R.; Viegas, C. (2014). "Cuantificación de Ánforas: protocolos y comparativas. Principais resultados de outro seminário de êxito do Projecto Amphorae ex Hispania". Al-Madan Online, 19-1: 189-190.

O projecto Amphorae ex Hispania: “paisajes de producción y de consumo” tem como objectivo o estudo interdisciplinar das ânforas romanas de produção hispânica. O propósito principal é organizar e conjugar, mediante uma ferramenta técnico-científica, os inúmeros esforços que os investigadores têm vindo a desenvolver de forma individual e dispersa nos referidos âmbitos temático e geográfico. A ferramenta idónea para alcançar esse objectivo é um Laboratório Virtual que permite partilhar dados, terminologia e conhecimentos: “El trabajo colaborativo, coordinado y distribuído, mejora la calidad de los resultados, tanto individuales como colectivos, y posiciona mejor la línea específica de la investigación a nivel nacional e internacional” (http://amphorae.icac.cat/blog/page/view/9).

O Laboratório Virtual, instalado na página web pública de livre acesso, e o desenrolar de todo o projecto têm vindo a decorrer desde 2011 sob a di recção de Ramon Jàrrega, investigador principal, e Piero Berni, investigador responsável pelo Laboratório Virtual. Trata-se de um projecto de in vestigação científica de I+D+i 2012-2015 (HAR2011-28244), que tem no Instituto Catalão de Antiguidade Clássica (ICAC) a sua instituição de acolhimento.

O projecto conta com vários membros de distintas universidades (Cádis, Sevilha, Granada, Alicante e Autónoma de Barcelona) e ainda inúmeros colaboradores de outras (UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, Universidade do Porto, UNED Cartagena, CSIC, Universidade de Cádiz, Universidade de Huelva, Junta da Extremadura, Ecomuseu Municipal do Seixal, Museu Nacional Arqueològic de Tarragona e Mu seu d’Arqueologia de Catalunya: Empúries).

A participação portuguesa neste Laboratório virtual tem sido uma realidade e diversos investigadores têm colaborado na realização das fichas dos principais tipos anfóricos, sobretudo lusitanos, mas também béticos.

O resultado deste trabalho materializa-se numa base de dados online (http://amphorae.icac.cat), que pode ser actualizada a todo o momento pelos próprios autores, e que reúne fichas descritivas da maioria dos tipos anfóricos hispânicos, constituindo actualmente uma ferramenta fundamental para quem estuda estas realidades na Hispânia ou no resto do território do Império Romano. Associada a esta base de dados, encontra-se ainda uma Biblioteca que reúne referências bibliográficas essenciais para o estudo dos conjuntos anfóricos, dispondo de inúmeros ficheiros de artigos em PDF, em regime de acesso aberto.

No âmbito deste projecto realizou-se, no passado dia 31 de Janeiro na Universidade de Sevilha, um Seminário que reuniu um grupo de investigadores, dedicado ao tema “Cuantificación de ánforas: protocolos y comparativas”, organizado pelos Profs. César Carreras Monfort, da Universidad Autónoma de Barcelona, principal mentor deste seminário, e Enrique García Vargas, da Uni ver ­sidad de Sevilha.

Como expressou César Carreras Monfort, “[…] la voluntad del Seminario era in tercambiar opiniones y experiencias con el objetivo de alcanzar algún tipo de acuerdo de futuro para cuantificar siguien­do un modelo consensuado […]”.

O seminário dividiu-se em dois grandes blocos de análise e discussão, um primeiro composto por um conjunto de apresentações em que se procurou dar um enquadramento teórico à problemática da quantificação, e um segundo dedicado a analisar casos de estudo concretos de contextos de consu ­mo de diferentes âmbitos regionais e de contex­tos de produção.

Cumprindo-se fielmente o horário e a ordem de trabalhos estabelecida, depois das palavras de abertura proferidas por Oliva Rodríguez, vicedecana da Universidade de Sevilha, a apresenta­ção inicial ficou a cargo de César Carreras Monfort, que, com base na sua larga experiência em quantificação de conjuntos em vários pontos do Império, sintetizou a problemática geral ineren­te à quantificação, as correntes e técnicas mais rele­vantes, bem como as suas principais virtudes e limitações.

Seguidamente Elise Marliére apresentou o caso da quantificação utilizada no território francês, para muitos o caso modelo e o exemplo a seguir, cujos princípios foram estabelecidos há cerca de 20 anos no Protocole de Beuvray, enumerando as vantagens do mesmo e os aspectos que melhora­ram na investigação francesa através da sua apli­cação / utilização nas décadas seguintes.

O primeiro bloco da temática geral foi concluído por Andrés Adroher Auroux, que comentou a recorrente ausência de uma quantificação uniformizada nos estudos de ânforas na Hispânia, a importância da definição das amostras de estudo e da sua representatividade, alertando para a necessidade de estabelecer um protocolo de quantificação baseado em valores comuns para um correcto intercâmbio de informação.

O segundo bloco de trabalho, iniciado a meio da manhã e terminado a meio da tarde, focou casos concretos de estudo e de análise que implicaram tarefas de quantificação, e em que medida estas se revelaram como as ferramentas mais adequadas à compreensão de fenómenos económicos e comerciais a micro e macro escala, por outras palavras, a escalas regionais, provinciais e interprovinciais. Para tal, foram vários os investigadores que apresentaram casos práticos de diferentes zonas peninsulares, uma vez que cada uma apresentava realidades e problemas particulares de análise.

O primeiro caso em análise foi da responsabilidade de Daniel Mateo, que expôs os problemas de quantificação e representatividade intrínsecos aos conjuntos da Ulterior, com que se foi deparando durante o decorrer da sua investigação para doutoramento, conjuntos estes balizados cronologicamente entre os séculos II a.C. - I d.C.

Seguidamente, Enrique García Vargas detalhou a sua experiência na quantificação recente de um núcleo urbano, o da cidade de Hispalis. Comentou como abordou conjuntos distintos da cidade e como a utilização de distintas metodologias de quantificação limitou os resultados globais e a comparação intersítios, advogando no final a necessidade de uma metodologia única, ou a apresentação dos resultados em bruto de todas como possibilidade analítica entre diferentes conjuntos. Dando continuidade a esta linha, Adolfo Fernández Fernández apresentou dificuldades práticas ao nível da comparação de resultados entre a Gallaecia e outras províncias do Império, sobretudo derivadas das distintas formas de apresentar resultados quantificados. Através de uma peque­na resenha historiográfica, ilustrou diacronica­mente como as diferentes “escolas arqueológi­cas” do Mediterrâneo tendem a publicar as suas tabelas de quantificação, exemplificando situações contraditórias entre os dados e a sua interpretação, e como muitas vezes o esforço realizado resulta num volume de informação inoperativo. No final propôs uma tabela simples com os elementos que considerou básicos para uma quantificação efectiva, e adaptável a diferentes necessidades.

Ainda dentro desta temática, os signatários (Rui Roberto de Almeida e Catarina Viegas) apresentaram o caso de estudo das cidades da Lusitânia, abordando principalmente a inexistência até há bem pouco tempo de conjuntos quantificados, e os problemas que derivam dessa falta de dados, bem como as condicionantes que oferece a própria realidade da Lusitânia. Mos traram vários estudos por eles realizados recentemente, com parâmetros quantificados, que permitiram, de algum modo, obter imagens parciais da economia alimentar da província, que eram pouco conhecidas, senão mesmo desconhecidas, e que permitem actualmente desenhar uma província assimétrica e com distintos comportamentos no que se refere aos padrões de consumo. Perante a tomada de consciência dessas diferenças, concluíram que só através de uma quantificação sólida, coerente e com princípios compatíveis com outros métodos, se poderá atravessar transversalmente o território e realizar leituras globais que possam ser também entendidas e utilizadas por investigadores exteriores à província.

Na apresentação posterior, de Jaime Molina Vidal, foram discutidas as metodologias de quantificação como o EVE (estimated vessel equivalent), e avançou com propostas concretas acerca dos coeficientes de fragmentação do bordo (o chamado módulo de ruptura: MR) que pretendem constituirse como mais uma ferramenta para a correcta abordagem à contagem dos conjuntos anfóricos. Por seu turno, José Juan Díaz abordou a problemática da quantificação a partir de questões específicas que os materiais provenientes dos centros de produção colocam. A sessão foi encerrada com a apresentação de Dario Bernal Casasola, que abordou novamente as problemáticas inerentes à quantificação, mas desta vez assinalando casos específicos de tipologias, relatando também a sua experiência pessoal baseada na utilização dos princípios instaurados pela escola francesa de Lattes.

A viva troca de impressões no final do dia demonstrou a necessidade de aprofundar o tema e assegurou existir uma vontade comum de se encontrar um modelo de quantificação uniforme que permita e facilite as comparações entre conjuntos de diferentes origens. Foi então criado um grupo de trabalho para configurar e redigir um documento que plasmasse esse modus operandi consensualizado para quantificar, e destinado principalmente aos investigadores da Hispania, onde esta tradição não se encontra tão implantada.

Trata-se, e tendo por base a tabela adaptada de Adolfo Férnandez Fernándes, que assenta no NMI (Número Mínimo de Indivíduos do Protocole de Beuvray), de introduzir outros dados de quantificação, como o módulo de ruptura por cada tipo (desenvolvido por Jaime Molina Vidal), a equivalência de peso do fragmento médio de cada tipo (proposta por César Carreras Monfort), e os dados do peso e capacidade de ânforas completas de determinados tipos (Rui Roberto de Almeida e Catarina Viegas).

Desta forma, será possível ir além da abordagem actualmente mais utilizada entre nós (que corresponde ao cálculo do NMI), e acrescentar informação relativa ao volume de produtos comercializados, calculados a partir da capacidade das ânforas.

Assim, e como sintetizou César Carreras Monfort “Esta tabla y documentación anexa se podrá a dis­posición de todo el grupo de participantes del Seminario para que virtualmente se acabe de completar. Una vez finalizado este proceso, se creía en la necesidad de publicar esta metodología de cuantificación consensuada en revistas arqueológicas de impacto tanto de Portugal como España, firmada por to ­dos los participantes”.

A sensação com que todos os participantes e assistentes saíram da Aula de Grados da Universidade de Sevilha, depois de dez horas de apresentações e debate, foi a do dever cumprido, fazendo eco às palavras de W. V. Harris: “Can we do anything further about this dearth of numbers? We can count what we do have - and there is undoubtedly more to be done in this respect in the realm of instrumentum domesticum” (HARRIS, 1993: 14).


Bibliografia
HARRIS, W. V. (1993) – “Between archaic and modern: some current problems in the history
of the Roman economy”. In HARRIS, W. V. (ed.). The Inscribed Economy. Production and distribution in the Roman empire in the light of instrumentum domesticum. Michigan: University of Michigan, Ann Arbor, pp. 11-30 (Journal of Roman Archaeology, Supplementary series, 6).