Tal como se referiu na Ficha da Dressel 14 da Lusitânia Ocidental, este tipo corresponde ao contentor alto imperial que Beltrán incluiu na série 4, tendo referido, aquando da sua identificação, em 1970, a existência de exemplares béticos (ver ficha Dressel 14 costa bética), originários dos fornos de Motril e Calahonda (BELTRÁN LLORIS, 1970). Para o território português apenas se assinala o exemplar de Valdoca-Aljustrel (FABIÃO & CARVALHO, 1990, 41-49). No que se refere às questões gerais acerca da tipologia desta ânfora, remetemos para o que se encontra na ficha da Dressel 14 da Lusitânia Ocidental, centrando-nos aqui nos aspectos que distinguem e/ou tornam particulares as ânforas Dressel 14 da Lusitânia Meridional.
Figura 1 - Ânforas Dressel 14 da Lusitânia Meridional. S. Bartolomeu de Castro Marim. 1. Inv 997.1.2; 2. Inv. 997.2.1; 3. Inv. 997.2.4. (fotos: Arquivo MNA/João Almeida) |
Na sua versão da Lusitânia meridional, esta ânfora caracteriza-se por apresentar o corpo de forma cilíndrica com tendência para o ovóide e o colo troncocónico mais baixo que habitualmente. O bordo, cuja morfologia pode ser bastante variável, apresenta-se, normalmente com uma secção semicircular ou triangular, ligeiramente voltado para o exterior. As asas, que saem da parte inferior do bordo e repousam no corpo, têm uma secção elíptica e frequentemente um sulco longitudinal na face externa, sendo mais curtas que nas restantes versões deste modelo. Os únicos exemplares completos conhecidos são originários de S. Bartolomeu de Castro Marim e serviram de base à descrição geral apresentada (figuras 1 e 2).
Figura 2 - Ânforas Dressel 14 da Lusitânia Meridional. S. Bartolomeu de Castro Marim. 1 a 4 (MAIA, 1979, Est. II) |
Têm sido definidas diversas variantes morfológicas, sobretudo com base nas características dos bordos, o que pode justificar-se não só pela diversidade de centros produtores, mas também pelo longo período em que ocorreu a sua produção (séculos I-III).
As fases iniciais da produção são marcadas por exemplares com bordos moldurados que se inspiraram de perto em modelos béticos como a Haltern 70 e a Dressel 7-11, identificados nos fornos de Setúbal (Largo da Misericórdia), em Abul e no Pinheiro (Alcácer do Sal). No entanto, actualmente consideram-se esses exemplares como formas distintas e não apenas variantes e etapas iniciais da produção da Dressel 14. Tal tem vindo a ser demonstrado em diversos sítios: na Alcáçova de Santarém (ARRUDA, VIEGAS & BARGÃO, 2006, 243), em Alcácer do Sal (PIMENTA et alii, 2006) ou em Lisboa (BUGALHÃO, 2001, 31-33 e Fig. 27; ver também FABIÃO, 2004, 392-396; MORAIS, 2003, 36-40; MORAIS & FABIÃO, 2007, 127-133).
Os bordos destes recipientes correspondentes às variantes identificadas no Sado estão igualmente representados nos centros produtores algarvios, sobretudo os de secção triangular ou semicircular. Mas é sobretudo a variante de menores dimensões, habitualmente designada como “Dressel 14 tardia”, que se apresenta com maior frequência no Algarve romano, como se desenvolverá infra.