Os atributos da Almagro 51c que mais variam ao longo dos mais de dois séculos de existência desta ânfora são a forma do corpo, piriforme ou fusiforme, o colo, que em consequência da forma do corpo pode ser curto ou alongado, as asas e o fundo, que tem várias variantes: troncocónico invertido, cilíndrico, troncocónico ou cónico.
No que respeita ao corpo, tudo indica que a forma mais antiga seja a piriforme, e o momento em que surgiu terá sido nos finais do século II ou inícios do III, tanto no Tejo como no Sado, tendo em conta os fundos recuperados num nível da Quinta do Rouxinol (Seixal) cuja cronologia pode recuar a finais do séc. II (figura 4, grupo 1) (SANTOS, 2011; QUARESMA, no prelo) e noutro de finais do século II - inícios do III na olaria do Pinheiro (Alcácer do Sal) (figura 3, nºs 1 a 6 e figura 4, nºs 1 e 2) (MAYET & SILVA, 1998, 113-117 e 133-134, figs. 50-51).
A forma piriforme está plenamente consolidada em meados do século III, sendo o melhor exemplo a ânfora inteira acima apresentada (figura 1, n.º 1 e figura 2, n.º 2), de uma escombreira de Abul (Alcácer do Sal) de meados, ou ainda do segundo quartel, do século III [referenciada como XVII 2/7 (1A-2A)] (MAYET & SILVA, 2002, 168-169 e 201-209, figs. 106-114). O fundo das ânforas deste depósito pode ser cilíndrico ou ter a base mais larga, com uma forma troncocónica invertida (figura 3 – MAYET & SILVA, 2002, 207, fig. 112, n.º 106 e 209, fig. 114, n.º 118), sendo ocos e estreitos em relação à pança, por vezes com uma cavidade na base. Na olaria do Pinheiro, com uma vida mais longa, estes fundos duram até meados do século IV, tendo em conta exemplares da segunda metade do século III, tanto cilíndricos como troncocónicos ou troncocónicos invertidos (MAYET & SILVA, 1998, 141-142 e 168, fig. 59) e outros do mesmo tipo de um contexto da primeira metade ou do primeiro terço do século IV (MAYET & SILVA, 1998, 187-189, 230 e 232, figs. 80 e 82). Nota-se, no entanto, uma tendência na olaria do Pinheiro para os fundos cilíndricos se tornarem mais curtos e mais estreitos, bem visível em peças de outro contexto da primeira metade do século IV, onde convivem com fundos mais largos (MAYET & SILVA, 1998, 191-192, 242 e 244, figs. 92 e 94). Em finais do século IV, os fundos cilíndricos têm um tamanho ainda mais reduzido (MAYET & SILVA, 1998, 192-194 e 251-252, figs. 101-102) e tornam-se menos frequentes, embora ainda possam aparecer em meados do século V (MAYET & SILVA, 1998, 290 e 306, fig. 139, n.º 116). Os fundos cilíndricos dão lugar aos fundos cónicos da variante C fusiforme, bem representados em níveis de inícios do século V (MAYET & SILVA, 1998, 201-203 e 274, fig. 124, n.ºs 73 e 74) e meados desse mesmo século (MAYET & SILVA, 1998, 290 e 306, fig. 139).
Figura 3 - Ânforas Almagro 51c lusitanas do Sado. Fundos das olarias do Pinheiro e de Abul (segundo MAYET & SILVA, 1998 e 2002). 1 a 6. Pinheiro. Variantes A/B e B. Finais do século II – Início do século III (Fig. 51, n.ºs 66 a 71); 7 a 9. Abul. Variante B. Segundo quartel a meados do século III (Fig. 113, n.º 110 e Fig. 114, n.ºs 118 e 119); 10 a 13. Pinheiro. Variante B. Segunda metade do século III (Fig. 59, n.ºs 35, 36, 38 e 40); 14 a 17. Pinheiro. Variante B. Primeira metade ou primeiro terço do século IV (Fig. 80, n.ºs 15 a 18); 18 a 20. Pinheiro. Variante B. Primeira metade do século IV – Típica do século IV (Fig. 94, n.ºs 134 a 136); 21 e 22. Pinheiro. Variante B. Finais do século IV (Fig. 101, n.ºs 186 e 187); 23 e 24. Pinheiro. Variante C. Início do século V (Fig. 124, n.ºs 73 e 74); 25 a 28. Pinheiro. Meados do século V (Fig. 139, n.ºs 102, 114, 115 e 117) |
No vale do Tejo, a Almagro 51c piriforme é perfeitamente reconhecível, por exemplo, numa peça quase completa do Porto dos Cacos (figura 2, n.º 1 – RAPOSO, 1990: 149, fig. 35, n.º 56). Tudo indica que também nesta região foi a variante mais antiga, com fundos do Grupo 1 da Quinta do Rouxinol (figura 4). Nesta região, com base nos exemplares desta olaria, a par deste tipo de fundos, em pleno século III surgem os fundos dos grupos 2 (baixos e em anel), 3 (troncocónicos invertidos) e 4 (cilíndricos). Os fundos dos grupos 3 e 4 são equivalentes aos fundos troncocónicos invertidos e cilíndricos do Pinheiro do século III e primeira metade do século IV, embora se considere que tanto possam pertencer à variante piriforme como fusiforme. Os fundos do Grupo 2, ao invés, parecem ser predominantemente do vale do Tejo e correspondem a ânforas de corpo mais estreito, da variante C (fusiforme). Significa isto que no vale do Tejo se comprova a variante fusiforme ainda no século III, enquanto no vale do Sado não terá surgido senão no século IV.
Na Quinta do Rouxinol os mesmos fundos dos grupos 2, 3 e 4 perduram, sem alteração significativa, na segunda metade do século IV e nas primeiras décadas do século V (SANTOS, RAPOSO e QUARESMA, 2012).
Figura 4 - Ânforas Almagro 51c lusitanas do Tejo. Grupos tipológicos de fundos da olaria da Quinta do Rouxinol (segundo DUARTE & RAPOSO, 1996: 245, fig. 4, n.ºs 4 a 13). Grupo 1. Fundos troncocónicos, bem diferenciados do corpo, ocos, de base larga e plana ou, mais frequentemente, com omphalus central; Grupo 2. Fundos baixos e pouco diferenciados do corpo, apresentando por vezes uma depressão central; Grupo 3. Fundos ligeiramente troncocónicos, ocos, de base estreita, plana ou, mais frequentemente, com omphalus central; Grupo 4. Fundos cilíndricos, ocos, de base estreita, plana ou, mais frequentemente, com omphalus central |
Esta diversidade tipológica tem paralelo nos materiais de outra olaria do Tejo, o Porto dos Cacos (RAPOSO, 1990, 148-149, figs. 34-35), onde está também presente o fundo cónico referenciado no vale do Sado, ainda que aparentemente com fraca representatividade (IDEM, 148, fig. 34, n.ºs 50 e 51).
Os bordos da ânfora Almagro 51c, sempre com uma inflexão interna, têm bastante variabilidade, podendo ser sub-rectangulares, subtriangulares ou arredondados (figura 5), mas essa variabilidade não parece estar directamente relacionada com um período cronológico definido. No Sado, os colos tendem a alongar-se na variante C fusiforme, mas não é fácil identificar esta característica em material fragmentado.
Figura 5 - Ânforas Almagro 51c lusitanas do Tejo. Grupos tipológicos de bordos da olaria da Quinta do Rouxinol (segundo DUARTE & RAPOSO, 1996, 245, fig. 4, n.ºs 1 a 3). Grupo 1. Bordos em fita, de secção subrectangular, com a face externa vertical e, por vezes, apresentando ligeira aba pendente, enquanto na face interna é frequente uma inflexão bem marcada na ligação ao colo; Grupo 2. Bordos de secção arredondada, frequentemente bem demarcados do colo na face externa mas praticamente sem inflexão na face interna; Grupo 3. Bordos de secção subtriangular, com arestas bem marcadas ou ligeiramente arredondadas, espessados e, por vezes, apresentando ligeira aba pendente na face externa, pouco demarcados do colo na face interna |
Ainda no vale do Sado, as asas em fita sofrem alguma evolução: na variante piriforme formam um arco de círculo bastante largo, podendo ter uma ou duas caneluras, e assentam no colo imediatamente sob o bordo, por vezes com um acrescento de pasta na ligação. Na variante fusiforme (figura 6), as asas são em fita pouco espessa, levemente moldurada, sem verdadeira canelura no exterior. Alongam-se, tal como o colo, e desenham um arco menos arredondado, com um espaço menor entre si e o colo, e tendem a assentar parcialmente sobre o bordo (MAYET & SILVA, 1998, 145 e 203).
Figura 6 - Ânforas Almagro 51c lusitanas do Sado. Bordos da olaria do Pinheiro (segundo MAYET & SILVA, 1998). 1 e 2. Finais do século II – Início do século III (Fig. 50, n.ºs 48 e 49); 3 e 4. Segunda metade do século III (Fig. 58, n.º 27 e Fig. 57, n.º 24); 5 e 6. Primeira metade ou primeiro terço do século IV (Fig. 81, n.ºs 19 e 22); 7 e 8. Primeira metade do século IV (Fig. 93, n.ºs 128 e 129); 9, 10 e 11. Finais do século IV (Fig. 101, n.ºs 184 e 185 e Fig. 123, n.º 67); 12 e 13. Final do século IV – Início do século V (Fig. 121, n.ºs 52 e 53) |
No mesmo centro produtor, o revestimento das ânforas Almagro 51c com um engobe esbranquiçado ou amarelado é exclusivo da variante B (MAYET & SILVA, 1998, 146).
Borde: Bordo de secção sub-rectangular, subtriangular ou arredondada, voltado para o exterior, apresentando frequentemente uma inflexão interna mais ou menos acentuada.
Cuello: estreito e troncocónico, com a parede curva.
Asa perfil: Arqueado, ligando a zona superior do colo e a base do bordo ao ombro. Frequentemente cobre também a parte inferior do bordo e forma um arco acima do ponto de ligação superior, em “orelha”. Também se apresenta mais rectilínea, descaindo imediatamente para o ombro.
Asa sección: Em fita, de secção sub-rectangular ou elíptica, frequentemente com um ou dois sulcos longitudinais na face externa.
Hombro: suave e largo na variante B, piriforme, é menos marcado na variante C, mais estreita e fusiforme. Não apresenta carena na ligação ao colo.
Cuerpo: com maior largura na parte superior, é piriforme na variante A, mais baixa e larga, e fusiforme na variante B.
Base: frequentemente com omphalus central, apresenta-se sob diferentes formas: larga e troncocónica; baixa e pouco diferenciada do corpo; ou estreita, de perfil cilíndrico, troncocónico ou cónico.
Metrology | Value |
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Maximum height (cm) | 65-77 |
Maximum width (cm) | 25-42 |
Maximum rim diameter (cm) | 8,5 e 11 |
Container weight (kg) | - |
Typical Capacity (Lt) | - |