Relativamente às produções do Pinheiro, F. Mayet e C.T. da Silva ensaiaram uma análise da evolução da morfologia e estabeleceram três variantes (fig. 6), baseando-se na estratigrafia observada (Mayet e Silva, 1998). Assim, desde o início da sua produção, em meados do séc. I, até aos finais do séc. II, identificaram três variantes desta forma, tendo por base essencialmente a forma do bordo: A) bordo moldurado (“en bandeau”); B) bordo triangular e C) bordo arredondado (Mayet e Silva, 1998, 62-64).
Figura 6 - Ânforas Dressel 14 lusitanas: proposta de evolução formal das produções sadinas. 1, 2 e 3. Abúl, Variante A (segundo Mayet e Silva, 2002, 130, fig. 52, n.º 1; 134, fig. 56, n.º 23; 136, fig. 58, n.º 31); 4, 5 e 6. Abúl, Variante B (segundo Mayet e Silva, 2002, 139, fig. 61, n.ºs 48 e 49; 140, fig. 62, n.º 50); 7, 8 e 9. Abúl, Variante C (segundo Mayet e Silva, 2002, 143, fig. 65, n.ºs 66 e 67; 144, fig. 66, n.º 68) |
A primeira variante (A), que corresponderia às fases iniciais da produção, foi marcada por exemplares com bordos moldurados que se inspiraram de perto nos modelos béticos, como a Haltern 70 e a Dressel 7-11, e, além do Pinheiro (Alcácer do Sal), foi também identificada nos fornos de Setúbal (Largo da Misericórdia), em Abul (Mayet e Silva, 1998, 62-64; Mayet e Silva, 2002, 100-103; Mayet e Silva, 2009, 58-59). Estas formas são igualmente uma realidade nos fornos de Peniche (Cardoso, Rodrigues e Sepúlveda, 2006, 253-278). Na verdade, os exemplares do Pinheiro apresentam mais frequentemente um bordo triangular com uma canelura mais ou menos marcada ou uma moldura fina. Esta variante foi datada da primeira metade do séc. I, podendo prolongar-se na segunda metade desse século (Mayet e Silva, 1998, 63). Actualmente, consideram-se esses exemplares como formas distintas e não apenas como variantes e/ou etapas iniciais da produção da Dressel 14, como tem vindo a ser demonstrado em diversos sítios de consumo, como na Alcáçova de Santarém (Arruda, viegas e Bargão, 2006, 233-252), em Alcácer do Sal (Pimenta et alii, 2006) ou Lisboa (Bugalhão, 2001, 31-33 e fig. 27) (ver também Fabião, 2004, 392-396; Morais, 2003, 36-40; Morais e Fabião, 2007, 127-133) (ver fichas das ânforas Dressel 7/11 Lusitânia Ocidental e Haltern 70 Lusitânia Ocidental).
A variante B da Dressel 14 do Sado apresenta o bordo de perfil triangular, tendo uma cronologia sobretudo centrada na segunda metade do século I, na época flávio-trajana (Mayet e Silva, 2002, 103-105; Mayet e Silva, 2009, 59). Quanto aos fundos, caracterizam-se por ser cónicos, ocos ou com uma bola de argila no seu interior, sendo difícil relacioná-los com uma variante em particular. No entanto, considera-se que os fundos troncocónicos e ocos, por vezes com nódulo interno, terminado em bico diferenciado e cónicos, frequentemente ostentando grafitos, foram sobretudo associados às variantes A e B (Mayet e Silva, 2009, 59).
A variante C da Dressel 14 sadina caracteriza-se pelo bordo de perfil arredondado, encurvado para o interior. Terá sido o tipo que registou uma maior difusão durante o séc. II (Mayet e Silva, 1998, 63; Mayet e Silva, 2002, 105-108). Apresenta ainda uma aplicação de pastilha de barro na ligação da asa ao colo, sendo o bico semelhante às variantes anteriores, quase sempre com um nódulo interno e sem grafito (Mayet e Silva, 2009, 59-61).
De acordo com os dados disponíveis, entre os finais do século II e os inícios do século seguinte assiste-se à evolução desta forma para a chamada “Dressel 14 tardia” de menores dimensões: altura total inferior a 100 cm. O bordo apresenta grande variedade de perfis: DB entre 14 e 16 cm e o colo apresenta-se mais baixo, as asas mais curtas, em fita e pouco espessas, mas sem a canelura (Mayet e Silva, 2002, 171-173; Mayet e Silva, 2009, 63). Esta variante tardia parece ter sido a mais comum no território algarvio (ver ficha da Dressel 14 da Lusitânia Meridional).
Bordo: em fita, saliente, por vezes marcado por canelura na base, na variante mais precoce; de secção triangular, extrovertido e por vezes ligeiramente encurvado; ou de secção arredondada, por vezes com espessamento interno.
Colo: cilíndrico ou ligeiramente bitroncocónico.
Asa perfil: curva acentuada, quase a 90o, na zona de ligação ao colo ou à base do bordo, seguida de troço rectílineo, vertical ou ligeiramente introvertido, até à ligação ao ombro.
Asa secção: elíptica, com sulco longitudinal na face externa.
Ombro: suave, normalmente sem carena na ligação ao colo.
Corpo: cilíndrico, normalmente com ligação suave ao colo e inflexão mais acentuada, por vezes carenada, na ligação ao fundo.
Base: troncocónica e oca, terminada em extremidade com grande diversidade formal, também ela oca ou, mais frequentemente, preenchida por nódulo interno.
Metrology | Value |
---|---|
Maximum height (cm) | 99-112,5 |
Maximum width (cm) | 30-34 |
Maximum rim diameter (cm) | 16-22 |
Container weight (kg) | 16-18 |
Typical Capacity (Lt) | 40-45 |