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Victor Manuel Simões Filipe, «Haltern 70 (Western Lusitania)», Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/haltern-70-western-lusitania), 21 July, 2016

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A classificação como Haltern 70 de ânforas de fabrico lusitano com características formais em tudo idênticas àquele tipo produzido no Vale do Guadalquivir não tem reunido o consenso geral entre os investigadores, sendo muitas vezes designadas como formas “afins à Haltern 70”. Em grande parte esta posição relaciona-se, por um lado, com o facto de estas produções mais antigas de ânforas lusitanas estarem ainda mal caracterizadas e mal tipificadas, mercê da escassez de exemplares completos e de materiais recolhidos em contextos estratigráficos seguros, bem como de um quase total desconhecimento dos seus centros produtores; por outro, com o facto de esta não ser, eventualmente, a designação mais adequada para estas ânforas de produção lusitana. Embora conscientes destes factos, assume-se aqui, à falta de melhor, a designação de Haltern 70 Lusitana.

Figura 1- Haltern 70 Lusitana recolhida no Rio Tejo, Museu de Vila Franca de Xira (fotografia de João Pimenta, modificada) Figura 2- Único exemplar completo conhecido de Haltern 70 de produção Lusitana, recolhido no Rio Tejo (Quaresma, 2005)

No centro de produção de ânforas de Abul os autores classificaram como Dressel 14, variante A, os modelos mais precoces, de bordo em banda, recolhidos em depósitos tiberianos, assumindo que esse contentor seria o resultado da imitação de modelos béticos, sobretudo da Haltern 70 (Mayet & Silva, 2002). Esta forma, de bordo em banda, havia já sido identificada no centro de produção do Largo da Misericórdia, Setúbal, por Carlos Tavares da Silva (1996).

No estudo sobre as ânforas recolhidas em vários sítios da Galiza, na região entre os rios Minho e Douro e no Castelo da Lousa (Mourão, Évora), Rui Morais publica vários fragmentos de bordo de fabrico lusitano perfeitamente enquadráveis nas características morfológicas da Haltern 70 (Morais, 2004; Morais & Fabião, 2007), colocando também a hipótese de que, constituindo o resultado da imitação das Haltern 70 béticas, estas formas poderão ter evoluído para a variante A da Dressel 14 (Morais, 2004).

Desde então, foram publicados vários conjuntos de ânforas de fabrico lusitano tidas como produções mais antigas de morfologia ovoide, normalmente caracterizados por uma grande variabilidade ao nível da morfologia do bordo, e onde invariavelmente estão presentes fragmentos de bordo atribuíveis ao tipo Haltern 70 (Arruda et alii, 2006; Filipe, 2008a, 2008b; Mataloto, 2008; Morais, 2010; Pimenta et alii, 2006; Pimenta, no prelo; Quaresma & Calais, 2005; Dias et alii, 2012). Infelizmente, a maior parte destes materiais não foi recolhido em contextos estratigráficos que permitam definir a amplitude cronológica destas produções.

A publicação de uma ânfora completa de fabrico lusitano, morfologicamente atribuível à forma Haltern 70 (Quaresma, 2005), veio confirmar a produção, no ocidente peninsular, de um contentor anfórico que reproduz de forma bastante fiel aquela forma.

No que diz respeito aos centros de produção destas ânforas, e para além das já referidas olarias do Largo da Misericórdia, Setúbal (Silva, 1996), de Abul (Mayet & Silva, 2002) e do Pinheiro (Mayet & Silva, 1998) que produziam as designadas Dressel 14 variante A, são apenas conhecidos os centros oleiros do Morraçal da Ajuda em Peniche (Cardoso & Rodrigues, 2005; Cardoso et alii, 2006) e da Parvoíce (Forno ou Fornos da Parvoíce) em Alcácer do Sal (Pimenta et alii, no prelo).