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Ines Vaz Pinto, Ana Patrícia Magalhães, «Almagro 51A-B (Western Lusitania)», Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/almagro-51a-b-western-lusitania), 08 July, 2016

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A denominação desta ânfora deriva da sua afinidade tipológica a exemplares das necrópoles tardo-romanas de Ampúrias  classificados por M. Almagro como “variantes” a e b da sua forma 51 (Almagro, 1955). Beltrán LLoris integrou essas peças na forma 52 da sua tipologia (Beltrán, 1970) e S. Keay na sua forma XIX, dividindo-a em três variantes (Keay, 1984), identificando-se ainda com exemplares da sua forma XXI. Tendo em conta o fabrico e a morfologia, as ânforas Almagro 51a-b de Ampúrias serão originárias do Sul de Espanha (Keay 1984, 160).

Figura 1 – Reconstituição de exemplar do Pinheiro (escala aprox.) (Mayet e Silva, 1998, 203, fig. 78, nº 3)

Na Lusitânia ocidental, ânforas integráveis na forma Almagro 51a-b foram assinaladas, desde 1978, na Quinta da Alegria (Setúbal) na Herdade do Pinheiro (Alcácer do Sal) e em Abul II (Alcácer do Sal), com alguns exemplares apresentados (Cardoso, 1978; Coelho-Soares e Silva, 1979; Cardoso, 1986; Diogo e Faria, 1990).

J. C. Edmonson designou esta ânfora por Lusitanian Garum III sem apresentar qualquer exemplar lusitano (1987, 170-171). Dias Diogo publicou o desenho (sem escala) de um exemplar inteiro que integra a sua tipologia com a designação de Lusitana 7, afirmando tratar-se de uma forma atestada nos fornos do Sado e do Algarve, mas não indica a proveniência do exemplar publicado (Diogo, 1987, 183), que é provavelmente algarvio (Fabião, Filipe e Brazuna, 2010).

As escavações na olaria da Herdade do Pinheiro, realizadas de 1991 a 1994 (Mayet e Silva, 1998), ofereceram um conjunto de exemplares desta forma que, apesar de fragmentados (figura 1), provêm de contextos estratigráficos definidos e são o melhor testemunho da produção desta forma no vale do Sado. Essas peças permitiram reconstituições que sugerem que as ânforas desta forma da Lusitânia ocidental tenham um comprimento máximo de 0,80-0,90 m (figura 2).

Figura 2 – Reconstituição de exemplares do Pinheiro: variantes A (nº 1 e 2) e C (nº 3) (escala aprox.) (Mayet e Silva 1998, fig. 78, nº 3 e 4, fig. 131, nº 1)

Trata-se de um tipo de ânfora pouco homogéneo, mas com alguns traços muito característicos, em particular uma pança piriforme que termina num fundo cónico, alongado e maciço, e asas em arco com uma curva muito pronunciada, frequentemente em orelha, geralmente assentes no colo logo abaixo do bordo e no ombro muito descaído. O bordo é relativamente alto e destaca-se devido a uma frequente moldura pronunciada na sua ligação ao colo, ou pelo molduramento em toda a altura.

No estudo das peças da olaria do Pinheiro definiram-se três variantes de bordo: liso (A) (fig. 3, nº 1-3), moldurado (B) (fig. 3, nº 4) e oblíquo e moldurado com acentuado relevo (C) (fig. 3, nº 5). Nos bordos lisos distinguiram-se ainda três variantes: bordo liso reentrante (A1) (fig. 3, nº 1), bordo liso vertical (A2) (fig. 3, nº 2) e bordo liso curvado para o exterior (A3) (fig. 3, nº 3; figura 5). As variantes A e B aparecem nos mesmos contextos da primeira metade do século V e a variante C aparece nos níveis que ilustram o final da produção em meados do século V.

Figura 3 – Variantes de bordo: nº 1- A1; nº 2 - A2; nº 3 – A3; nº 4 – B; nº 5 – C (Mayet e Silva, 1998, fig. 116, nº 14; fig. 116, nº 15; fig. 116, nº 16; fig. 117, nº 21; fig. 133, nº 18)

O colo tanto pode ser largo, de perfil troncocónico ou cilíndrico, como pode ser estreito com a parede curva. No caso da variante C, os colos serão mais curtos e estreitos.
As asas em arco semicircular, e frequentemente em orelha, são constituídas por um rolo irregular e fortemente moldurado, apoiando-se no colo, habitualmente sob o bordo, mas por vezes cobrindo a parte inferior deste, e na parte superior do ombro. A sua secção é geralmente ovalada mas com recortes e frequentemente com a parte externa tendencialmente triangular, o que torna muito fácil distingui-las. As asas da variante C continuam a ter um perfil em orelha mas são mais curtas e a sua secção é em fita relativamente pouco espessa e com bastante relevo.

O fundo cónico alongado e compacto também pode variar quanto às suas proporções, tendo-se verificado, no Pinheiro, fundos mais curtos e outros mais alongados, entre 5,7 cm e 11,1 cm de altura, com a mesma cronologia, por vezes fazendo ângulo com a pança. Os fundos da variante C serão de forma cónica mais acentuada mas mais pequenos, com cerca de 6,5 cm de altura (figura 4).

Figura 4 – Fundos: variante A: nº 1 e 2; variante C: nº 3 (Mayet e Silva, 1998, fig. 116, nº 19; fig. 127, nº 102; fig. 133, nº 28)

A nível morfológico, as Almagro 51a-b do vale do Sado distinguem-se das de Ampúrias por não apresentarem os bocais largos da Keay XIX variante A, mas também pela forma do bordo, visto os típicos bordos ondulados de Ampúrias, com espessamento no lábio e na base, não se verificarem no Sado. Por outro lado, os bordos moldurados das variantes B e C do Pinheiro não têm equivalente em Ampúrias. Quanto aos fundos, não têm o espessamento arredondado que se verifica frequentemente nos fundos das ânforas dessa forma recolhidos nesse sítio tarraconense.

Em relação à mesma forma produzida no Algarve, a do vale do Sado distingue-se essencialmente pelas suas asas em orelha, característica que ainda não se verificou nessa região, e poderá ser levemente mais comprida e mais larga, o que é dificilmente perceptível em material fragmentado.

No entanto, a comparação de ânforas Almagro 51a-b de diversas proveniências aponta para “uma relativa padronização das dimensões” (Fabião, Filipe e Brazuna, 2010).

Embora bem presente no vale do Sado, a ânfora Almagro 51a-b é minoritária nos seus centros de produção e o mesmo se verifica nos centros de consumo.

Figura 5 – Bordo e colo de Almagro 51a-b, variante A3, de Tróia (nº inv. 1042)