Time interval

O protótipo Gauloise 4 do Sul da Gália tem produção datada por LAUBENHEIMER (1985) entre 50 d.C. e o século II. Posteriormente RAYNAUD (1993) datou-o entre 80 e 200 d.C. As imitações tarraconenses, central e setentrional, decorreram entre 50 e 275/300 d.C., respectivamente (ver fichas Gauloise 4 da costa setentrional tarraconense e Gauloise 4 da costa central tarraconense), mas a imitação bética é mais tardia, situada entre 175 e 350 d.C. (ver ficha Gauloise 4 da costa bética).

A Lusitana 3 foi datada por D. DIOGO (1987) nos séculos I e II, mas ainda hoje carecemos de dados estratigráficos para a primeira centúria.

Em Chãos Salgados (Mirobriga), em UEs da primeira metade e de meados do século II (lixeiras entre a ponte e a natatio), surgiu um conjunto de bordos e fundos atribuível a este tipo, associado a bordos e fundos possivelmente já de Almagro 51c e, sugestivamente, a um bordo de Gauloise 4 gálica (QUARESMA, 2012; fig. 5). Neste conjunto, observa-se uma maioria de bordos verticalizados, em fita, geralmente lisos, ocorrendo a ranhura externa apenas num exemplar; um exemplar apresenta bordo arqueado, com asa aplicada imediatamente abaixo do bordo; um outro exemplar de bordo muito arredondado, embora com asa também aplicada imediatamente abaixo do bordo, poderá ser de Almagro 51c.

igura 5 –Lusitana 3, em conjunto com Almagro 51c (?) lusitana e Gauloise 4 gálica, em contextos da primeira metade e meados do século II de Chãos Salgados (QUARESMA, 2012, anexo 3)

No centro sadino da Herdade do Pinheiro encontramos o segundo conjunto estratigráfico disponível. Os autores (MAYET & SILVA, 1998, 113-115) datam o colapso da cozinha comum na segunda metade do século II, a par do fim do funcionamento dos fornos 1 e 7, com a ressalva de que o forno 2 poderá ter produzido até inícios do século III. A análise do corte estratigráfico LII 9, onde se regista o enchimento do colapso da cozinha comum (fig. 6), evidencia uma camada 1a (colapso do telhado), com Almagro 51c e terra sigillata africana C dos tipos Hayes 45 e 50; uma camada 1b (enchimento posterior), com Dressel 14 de bordo arredondado, Dressel 14 tardia e Lusitana 3 (Almagro 51c, variante a, na denominação dos autores); e uma camada 2 (lixeira), na base do depósito, com Dressel 14 de bordo arredondado, alguma Dressel 14 tardia e Lusitana 3, acompanhadas por terra sigillata africana A, do tipo Hayes 14B (MAYET & SILVA, 1998, fig. 44, nºs 3-4), mas também do tipo Hayes 15 (MAYET & SILVA, 1998, fig. 44, nºs 1-2). Este último tipo está datado por M. BONIFAY (2004) na segunda metade do século III, o que prolonga a sua cronologia para além da datação dos tipos 14 e 16 proposta por HAYES (1972), seguida correctamente pelos autores da monografia do centro sadino. A nova datação de M. BONIFAY (2004) obriga-nos, contudo, a datar as camadas 2 e 1b na segunda metade do século III. Para além disso, também a camada 1a, datada pelos autores no século IV, será enquadrável na segunda metade do século III, devido à ausência de terra sigillata africana D, cujo início se dá em 300 d.C. (HAYES, 1972).

Temos assim dois faseamentos estratigráficos, ambos de deposição secundária. Se é verdade que os exemplares de Chãos Salgados podem ter sido adquiridos entre os finais do século I e as primeiras décadas do século II, sendo este o contexto mais antigo para esta tipologia, também é legítimo supor que as Lusitana 3 da Herdade do Pinheiro (corte estratigráfico LII 9) tenham sido produzidas algumas décadas antes da segunda metade do século III. Neste sentido, é interessante constatar que este tipo está muito bem representado no Porto dos Cacos, cuja actividade começa no Alto-Império (RAPOSO, 1990; RAPOSO & DUARTE, 1996), mas é escasso no ateliê da Quinta do Rouxinol (DUARTE, 1990), cuja cronologia inicial poderá recuar ao final do século II, embora os contextos mais antigos sejam já do segundo quartel do século III (SANTOS, 2011; QUARESMA, no prelo). É possível assim que este período (225-250 d.C.) assista ao final da produção da Lusitana 3, tanto no vale do Tejo como no vale do Sado.

Figura 6 – Lusitana 3 do ateliê da Herdade do Pinheiro (Sado): corte estratigráfico LII 9, colapso da cozinha comum e enchimento posterior, correspondente às camadas 1b e 2, datadas de final do século II / início do III (MAYET & SILVA, 1998) ou da segunda metade do século III. Nºs 1 a 4: respectivamente, MAYET & SILVA, 1998, 120, fig. 45, nº 2; 132, fig. 49, nº 28; 133, fig. 50, nºs 36 e 48)

Em Conimbriga surge um exemplar em contexto de Trajano (ALARCÃO et alii, 1976, prancha XIX, n.º 63). Na Ilha do Pessegueiro (SILVA & SOARES, 1993, p. 11, fig. 54, nº 3), surge na fase IIB, datada no século II. Nas unidades de salga da rua dos Correeiros (Lisboa), a Lusitana 3 é identificada nas camadas de enchimento do tanque 17, datáveis de final do século II-primeira metade do século III (BUGALHÃO, 2001, 147-154), acompanhada de terra sigillata africana A (Hayes 6, 14 e 16).

Origin

A produção desta ânfora está atestada nos vales do Tejo e do Sado. No primeiro, foi sobretudo produzida no centro do Porto dos Cacos e escassamente na Quinta do Rouxinol (DUARTE, 1990, nºs 22 e 23; DUARTE & RAPOSO, 1996; RAPOSO, 1990; RAPOSO, SABROSA & DUARTE, 1995; RAPOSO & DUARTE, 1996; RAPOSO et alii, 2005, FILIPE & RAPOSO, 2009). No vale do Sado, ainda que identificada como “Almagro 51c, variante a”, está presente nos centros da Enchurrasqueira, Abul A, Herdade do Pinheiro e Quinta da Alegria (MAYET, SCHMITT & SILVA, 1996, fig. 4, fig. 36, nºs 58 e 59, fig. 42, nº 93, fig. 49, nºs 152 e 153, fig. 56, nº 203; MAYET & SILVA, 1998, 120; MAYET & SILVA, 2002, 177; DIOGO & FARIA, 1990, nºs 13 e 27).